sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Ciclo de entrevistas - Prof. Maurício Mazza - Anhembi Morumbi


Prof. Maurício Mazza
Eu comecei brincando com filmadora Super-8 na década de 1980. Depois conheci a computação gráfica em 1986.Continuei brincando até 1988 quando comecei a trabalhar com vinhetas corporativas, multimídia, internet, animação, jogos eletrônicos e trabalhar em alguns estúdios na área de publicidade. Sou formado em Ciência da Computação, pós graduado em Design de Hipermídia e atualmente sou mestrando em Design com dissertação sobre animação digital de personagens.

Que leitura você faz hoje da animação, do 3D e dos efeitos especiais no mercado brasileiro?
Hoje o campo da Animação está em crescimento no mundo todo. E apesar de todas as dificuldades, um dos lugares que a animação mais cresce no mundo é o Brasil. As ferramentas digitais, o universo 3D, e a internet são ferramentas que facilitaram muito o ingresso de artistas, estudantes, profissionais ou mesmo apaixonados pelo campo da animação. Os brasileiros sempre foram famosos pela sua criatividade, pela capacidade de oferecer soluções com o mínimo de recursos e este é um ponto a ser considerado no campo da animação. A evolução das ferramentas digitais para animação e a internet possibilitaram que qualquer pessoa pudesse ser um amador ou estudar para se tornar um profissional.É importante ressaltar que as ferramentas digitais são apenas ferramentas. A linguagem, os conceitos e as técnicas da animação clássica ainda são o grande diferencial para quem quer ingressar nessa área.O mercado brasileiro de animação já tem bastante história. Existem filmes importantes e profissionais com destaque internacional. Mas ainda não existe um plano de carreira, sindicato, etc. Na verdade o mercado brasileiro ainda não oferece segurança e estabilidade para os profissionais. A profissão ainda é marginalizada no sentido legal. Mas aos poucos este cenário está mudando. Com o surgimento de formações acadêmicas e incentivos governamentais, a tendência é o mercado se solidificar.A grande maioria de trabalhos expressivos na área aqui no Brasil são no campo da publicidade. Aos poucos alguns estúdios vão se destacando com curta-metragens em festivais, filmes para DVD, séries para televisão e efeitos especiais para o cinema.Alguns fatores que podem alavancar muito essa área é a entrada da Ubisoft no Brasil e incentivos como da Petrobrás, Ministério da Cultura e AnimaTV.Acredito que grandes produções serão feitas e bem sucedidas no Brasil.


Como a formação acadêmica pode ajudar a ingressar nesse mercado?
A grande diferença da formação acadêmica, se faz entre a relação das ferramentas e os conceitos.Dominar a ferramenta é importante, mas só com isso o profissional fica limitado. A animação requer muito planejamento e esse planejamento envolve muitas outras áreas: a observação, a pesquisa teórica e iconográfica, a escrita, o desenho, a narrativa, o olhar, a relação com o som, a relação com o teatro e cinema, entre outros.Além disso, a academia tem o caráter de experimentalismo, de vanguarda. A formação acadêmica exercita o pensar, relacionar a animação com as questões culturais e sociais, misturar técnicas, desenvolver projetos inter e transdisciplinares.Nas minhas experiências profissionais, várias vezes me deparei com limites projetuais encontrados em equipes onde participavam profissionais sem formação acadêmica.


Comente sobre algum caso de sucesso de animação, 3D aqui no Brasil.
Depende o que você quer dizer com sucesso. Estúdios como Casablanca Animation, Vetor Zero, Digital 21, SeagulssFly, entre outros têm vários trabalhos publicitários premiados e reconhecidos no mundo todo. Alguns nomes como Fausto De Martini, Mario Ucci, Krishnamurti Costa, Leo Santos e Alex Oliver, são profissionais que começaram de baixo trabalhando aqui no Brasil, principalmente na área de publicidade e hoje estão trabalhando em grandes empresas que produzem efeitos especiais para indústria de games e cinema. O Fausto por exemplo é coordenador do setor de modelagem da Blizzard, umas das empresas mais ricas da área de games. Ele começou de baixo, subindo degrau por degrau, traçando seu caminho ao longo de aproximadamente 10 anos e hoje é uma referência mundial.No final de 2008 tivemos o lançamento do Grilo Feliz de Glaubercy Rocha. Se não me engano, é o segundo longa brasileiro produzido totalmente em animação 3D para o cinema. O primeiro foi Cassiopéia, de Clóvis Vieira, que saiu antes ou simultaneamente com Toy Story. Sem falar no Carlos Saldanha, diretor da Era do Gelo 2, que é brasileiro mas construiu sua carreira desde o início nos Estados Unidos.


Quais são as suas principais fontes de inspiração?
Animação é uma área tão abrangente, que praticamente tudo pode servir como inspiração. Depende do caso, do filme, da cena, do personagem. Por exemplo, último projeto em que eu trabalhei, que será lançado este ano, os personagens são em sua maioria peixes e crustáceos. Nós convivemos com aquários para observar os movimentos dos animais e encontrar soluções para as cenas.Como o autor Ed Hooks afirma, a natureza é um grande livro aberto com muitos ensinamentos, basta ler com atenção. Após observar a natureza e de representar em frente ao espelho ou câmera de vídeo, sempre recorro principalmente aos filmes de WaltDisney e Walter Lantz . Estes ja animaram praticamente tudo que se possa imaginar de uma forma bem divertida e bem resolvida no meu entendimento. Mas não é só. A animação tem história expressiva em muitas partes do mundo em épocas diferentes. A constante ampliação de repertório é mais um elemento estimulado pela formação acadêmica.


Qual a sua sugestão para quem quer se profissionalizar nessa área?
Muitas pessoas e alunos pensam que trabalhar com animação digital é simples e fácil. Se iludem que o computador vai resolver tudo. Como eu disse, o computador e a computação gráfica são apenas ferramentas. Para entrar nessa área, é necessário muito estudo e muita dedicação. Se falarmos apenas das ferramentas digitais, estas ja exigem muita dedicação, vários fins de semana e noites em claro para serem dominadas. Somando ao estudo da linguagem da animação, das técnicas, dos princípios e conceitos, da ilusão e percepção do movimento e da linguagem cinematográfica, ainda é necessário um tempo para adquirir experiência. Ou seja, não é da noite para o dia que isso vai acontecer. Como é uma área em crescimento, a concorrência também é grande. Desenvolver animação é bem diferente de assistir, assim como desenvolver jogos digitais é bem diferente de jogar. O computador faz muitas coisas maravilhosas, mas animação ele ainda não faz. Alguns autodidatas se iludem, pois o computador gera a ilusão do movimento. Mas movimento não é animação. Animação basicamente é o sentido e a emoção do movimento, e isso ainda depende do talento humano.
Agradecemos a contribuição do Prof. Maurício Mazza.

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